O tempo da delicadeza
- Cláudia Marczak
- 8 de fev. de 2015
- 2 min de leitura
Resenha de A FLOR DA PELE, por Mariel Reis
A discussão recaía sobre a novela de D.H. Lawrence, intitulada originalmente como A Raposa, mas, no Brasil, devido ao efeito do filme nela baseado, era chamada de Apenas Uma Mulher. A história envolve o relacionamento homossexual entre duas mulheres que vivem retiradas em uma fazenda e têm a vida alterada pelo aparecimento de um forasteiro que viveu outrora nas terras ocupadas, agora, por ambas.
O assunto sobre a peça de ficção do controverso escritor inglês, deflagrado em uma oficina de escrita criativa ministrada por mim, à época, desaguou em uma confissão de uma das alunas.
A oficina tratava da confecção de narrativas curtas, portanto, seu objetivo era a orientação dos participantes para os gêneros contemplados pela justificativa, embora sem restrição quanto a abordagem de temas relativos a escrita de um modo geral. Cláudia Marczak, uma das participantes, advertiu-me que possuía um romance e me propôs a leitura. Atraído pela perspectiva, pedi que me fosse remetido e se o eixo repousava similarmente ao da novela de D.H. Lawrence, um tanto melhor.
A flor da Pele falava do amor lésbico, sem a afetação panfletária, sem partidarismo, porque as exigências de direitos civis se transformaram em plataformas para eleição de inúmeros políticos que não deveriam encarnar protagonismo em lutas que a agenda democrática deveria contemplar sem alarde, porque é uma demanda da sociedade e, assim, dos indivíduos que a integram.
A habilidade da escritora constrói as nuances da relação, tecendo, com delicadeza, uma intimidade crescente entre as protagonistas e atinge o ápice da cumplicidade entre ambas personagens em uma cena que resume as qualidades narrativas de Cláudia Marczak – a do beijo. Em meio ao realismo brutalista da literatura atual, A flor da Pele inaugura um tempo de delicadeza e afeto e sem palavras de ordem.
Mariel Reis é um escritor brasileiro, nascido em 1976. Cursou Letras na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). A partir da década de 1990, começou a publicar seus contos em diversas revistas eletrônicas, culminando a experiência com a extinta revista Paralelos. Publicou o último livro “A Arte de Afinar o Silêncio” (Ponteio Editora), em 2012. É um dos editores da revista eletrônica de contos Flaubert.
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